Que cheiro tem?
Doze anos. Foi a pena que Hugo apanhou. Transferido de Lisboa para um Estabelecimento Prisional do Norte. De carro celular fez as centenas de quilómetros que o separavam do local onde iria cumprir a sentença. A visão que teve do Mundo foi aquela que a fenda do carro, janela?, lhe permitiu ver.
Lá foi cumprindo a pena. Anos suficientes para se transformar no melhor jogador de futsal das prisões portugueses. Privado de Liberdade, especializou-se, ganhou nome e reconhecimento, tornou-se temido naquele desporto.
Quando a sua equipa chegou à final do Torneio, que se jogaria num pavilhão in – door na cidade do Porto, o Director da cadeia comunicou à equipa que a viagem se faria num autocarro de passageiros. Sem protecção especial.
Hugo ficou fascinado com a viagem. Com aquilo que viu, com os cheiros, com as pessoas, com o que estava à distância de um olhar.
Quando o jogo começou, o temível jogador não havia maneira de aparecer! Por muito que tentasse, nada lhe saía bem!
-- QUERO SAIR! gritou Hugo para o banco.
Pouco depois o Director perguntava-lhe o que se passava, o que tinha ele, que bicho lhe mordera!
-- Director, há dez anos que estou preso, há dez anos que não saio da cadeia. Sempre vi os outros através de grades. Agora isto… Até tenho as pernas a tremer!!!!
E, enquanto falava, o olhar, fascinado, percorria as bancadas onde milhares de pessoas, a maior parte familiares de reclusos, enchiam o tal pavilhão in–door…
A que cheira a Liberdade?
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