Maria Lisboa
A minha Mãe gostava de Amália. Particularmente deste fado. Um belo poema de David Mourão Ferreira. Que permitia, à minha mãe, sonhar Lisboa. Que permitia à minha mãe voltar a Lisboa. Ela, uma imigrante em Aveiro. Voltava sempre a Lisboa. De mão dada com o meu Pai. Outro imigrante em Aveiro. Voltavam a Lisboa. Sempre!
Estou a vê-los cantarem este fado. Primeiro Ela. Com a voz que a todos acalmava. Com o azul dos olhos a brilharem. De saudade. Depois ele, o meu Pai. Canastrão, desafinado, mas sempre com Lisboa na voz. Primeiro nome, Maria, de apelido Lisboa.
Fazem falta. Fecho os olhos e ouço. De novo.
Maria Lisboa
É varina, usa chinela,
tem movimentos de gata;
na canastra, a caravela,
no coração, a fragata.
Em vez de corvos no xaile,
gaivotas vêm pousar.
Quando o vento a leva ao baile,
baila no baile com o mar.
É de conchas o vestido,
tem algas na cabeleira,
e nas veias o latido
do motor duma traineira.
Vende sonho e maresia,
tempestades apregoa.
Seu nome próprio: Maria;
seu apelido: Lisboa.
2 comentários:
Um dia, quando for a Lisboa, gostava de ir a uma casa de fados! Temos que combinar!
nós fomos no meu aniversário há uns anos atrás! e foi muito giro!
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