Santana também venceu? Não brinquem comigo
Santana também venceu? Não brinquem comigo
por João Miguel Tavares
As entradas e saídas de Pedro Santana Lopes da sede de campanha na noite de domingo são uma boa metáfora do seu percurso político. Sempre a pular de um lado para o outro, sem que ninguém perceba porquê, mas conseguindo invariavelmente arrastar consigo a comunicação social. Santana há sete anos que não ganha nada (e não foi por falta de tentativas), mas é sempre um prazer vê-lo aproximar-se de uma câmara de televisão. Há como que um frémito que nos hasteia o sobrolho, assim como quando Sharon Stone pegava no picador de gelo em Instinto Fatal - quem sabe o que pode sair dali?
O seu discurso de derrota, por exemplo, foi uma das típicas - mas indiscutivelmente divertidas - embrulhadas do menino guerreiro. Em primeiro lugar, queixou-se das sondagens, que parecem ter-se transformado no equivalente às queixas dos árbitros nas flash-interviews dos jogos de futebol. Em segundo lugar, acusou António Costa de ter feito com a CDU um "acordo político" debaixo da mesa, que terá levado 11 mil eleitores comunistas (na verdade, foram 13 mil) a votar na CDU para a assembleia municipal mas no PS para a Câmara de Lisboa. Como é que se estabelece um acordo secreto com 13 mil eleitores? Isso Santana não explicou, que detalhes nunca foram com ele.
Claro que se fosse menos dado a delírios teria facilmente encontrado uma explicação bem mais simples para a ocorrência: houve 13 mil almas espertas que não quiseram ver Santana nos Paços do Concelho nem morto, e por isso preferiram engolir um sapo e pôr a cruzinha no quadrado do PS. Portanto, só com muita complacência e uma certa generosidade diante do seu estatuto político de morto-vivo é que se pode considerar Santana um dos vencedores da noite. Ele foi muito menos um trunfo do que um handicap. Basta fazer uma conta de somar: nas legislativas, PSD, CDS, MPT e PPM superaram os 40%. Nas autárquicas de Lisboa, ficaram nos 38,69%. Não há aqui qualquer espécie de vitória, nem sequer moral - a não ser contra as malvadas sondagens, que na hora de derrota serviram afinal como uma óptima muleta para justificar os maus resultados.
António Costa é, portanto, não só o grande vencedor da noite em Lisboa, como o único vencedor, ainda que a maioria absoluta só tenha aparecido em cima da meta e com recurso ao foto-finish. As negas do Partido Comunista e do Bloco para uma coligação acabaram por funcionar a favor de Costa, que assim conseguiu a primeira grande vitória eleitoral da sua carreira. Comunistas e bloquistas perderam um vereador e são responsáveis por ter cavado o buraco da irrelevância onde se sepultaram na noite de domingo. Foi inteiramente merecido.
por João Miguel Tavares
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