Porque hoje me lembrei
Tinha o olhar doce. Lembro-me de uma cara grande e orelhas grandes (eu tinha 6, 7 anos). Lembro-me de o ver sentado na mesa da cozinha e ensinar-me a desenhar uma flor. Levou-me à escola, de mão dada e carregou a minha mochila (aquela azul com um autocarro desenhado que me ofereceu). Lembro o quarto onde dormia, o fogão eléctrico com a cafeteira de água em cima (era por causa da tosse). E o cigarro. Não me lembro do dia em que morreu, morreu lá em casa. Não me lembro se chorei a ida dele. Fui para a escola como noutro dia qualquer, não me lembro como me foi dada a notícia. Reparo que desse dia não tenho memória. Hoje, não sei porquê, lembrei-me dele. E hoje, amanha e para sempre será sempre o meu avô. Quem veio depois só pode ser chamado de tio, pois eu conheci o meu avô de mãos grandes e olhos doces.
A filha, minha mãe, tem o olhar igual ao dele.
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