A convocatória correu célere. Porta a porta. Café a café. Boca a boca.
Às tantas horas em frente da Faculdade de Letras, contra o fascismo, a guerra colonial. Mais de cinco centenas. Espalhados pela Universidade.
Mais policias de choque, é verdade. Se lhes juntarmos os gorilas, levavam séria vantagem .
De forma mágica, todos se juntaram: cerráramos fileiras. “Abaixo a guerra colonial!”, “Nem mais um só soldado para as colónias”, “Morte ao fascismo o Povo vencerá” De forma ritmada. Braço no braço, olhar em frente, determinado. Direitos à escadaria Monumental.
Sem aviso, a policia de choque carregou. Os cães à frente. Os gorilas tiraram dos casacos as pequenas matracas. Os PIDES desmascararam-se e surgiram no meio de nós. A carga foi brutal.
Tentei escapar por uma ruela, para a Sé Velha. Trouxe alguns gorilas atrás de mim. Veloz. Corrida e pensamento”Há uma escadaria que vai dar à Sé Velha. É por aí. Depois Quebra Costas e Largo da Portagem.” Ainda ouvi alguns “Filhos da Puta!” e “Morte aos PIDES!”.
Depois, a escadaria apareceu à minha frente. Tentei galgá-la de uma só vez. Tamanho foi o trambolhão que até os gorilas, que se aproximavam, pararam de espanto.
Levantei-me, todo dorido, e gritei qualquer coisa contra o fascismo.
À noite, lá estava o nívea, preto, da PIDE. À porta da República.
Fui dormir à PRÁQUISTÃO.
Dias depois já não estava lá. Nestes 35 anos não há memória de lá ter estado.
A formiga, no carreiro, deixou de andar em sentido contrário. Mudou de rumo.
(Gostaria que o ZECA tivesse razão.).